75567452_3153629141318537_1701596034708275200_n.jpg

Livro

A Casa

SDA.png

No início de 2020 tomei a decisão de escrever um livro sobre CASA. Era desejo antigo, ao longo do tempo as ideias iam se articulando em minha mente e a vontade aumentava, mas faltava a ação, faltava pôr em prática. Com a pandemia, o fato de ficar em casa acabou proporcionando mais tempo e a vontade se transformou em ação. Dei o primeiro passo e ao final de alguns meses e quatrocentas páginas escritas o livro estava praticamente concluído, faltando apenas o último capítulo da primeira parte do livro. Para este eu precisava refletir mais. Pois, se até o penúltimo capítulo eu trato do passado e a escrita era fluida, no último capítulo eu pretendo tratar do futuro e isso envolve uma análise mais elaborada. Por isso, eu larguei o projeto e trabalhei mentalmente neste último capítulo, que é uma previsão para o futuro da arquitetura residencial. Não!!! Eu não escrevi o último capítulo ainda. Mas já está montado mentalmente e isso é o mais importante.

Então, já que vou continuar a escrever e transformar os textos em um livro editado, revisado, impresso e publicado, achei interessante a ideia de começar a publicar os textos que compõem o livro neste blog. O plano é publicar aqui, em primeira mão, cada trecho para que o texto seja exposto, criticado e amadurecido antes da editora fazer seu trabalho. Pretendo fazer isso ao longo das próximas semanas. Até lá, terei o último capítulo concluído e o livro finalizado.

A estrutura do livro é montada em capítulos que tratam da casa em vários aspectos. Na sequencia dos capítulos, além das partes acessórias como introdução, apresentação e conclusão, no livro se destacam três partes distintas: Primeira parte, análise das casas em sete décadas ( iniciando no período entre 1960 e 1970 e terminando na década compreendida entre 2020 e 2030), Segunda parte, meu método para projetar casas (que envolve a explicação de programa de necessidades, setorização, organograma e zoneamento) e Terceira parte, conceitos contemporâneos para projeto de casas contemporâneas (com a explicação de como os conceitos participam no desenvolvimento dos projetos, conceitos estes como minimalismo, maximalismo, desejo de status, sustentabilidade, casa autônoma, arquitetura da felicidade, internet das coisas, casa como investimento, etc.).

Você que vai continuar lendo deixo aqui algumas considerações:

1- Minha total gratidão.

2- Todas as críticas são bem-vindas, ajudam na evolução.

3- Ao criticar não escolha palavras, eu aguento.

4- O livro é baseado em minhas vivencias pessoais e profissionais, então o que temos é um texto levemente técnico, coloquial, despretensioso e com algumas histórias.

5- Esse livro é para quem pensa em fazer uma casa para si ou para investimento, ou, ainda, para quem quer entender o que é a casa contemporânea.

6- Um dos objetivos do livro é contar quais os princípios que eu utilizo na criação dos projetos das casas e o porquê.

7- Sou prolixo ao falar, fui prolixo ao escrever, prometo melhorar.

1 INTRODUÇÃO

QUARENTA ANOS VIVENDO ARQUITETURA

(iniciei meus estudos acadêmicos em 1982)

A experiência de quatro décadas em arquitetura me permitiu pensar e projetar centenas de casas nestes anos. Nesse tempo, os projetos se transformaram em casas reais, que foram habitadas, testadas, recicladas, reformadas e algumas até já foram demolidas (isso faz pensar na impermanência das coisas. Até mesmo para aquilo que é feito de aço e concreto).

A oportunidade que a profissão de arquiteto acabou proporcionando também a experiencia de vivenciar muito de perto a maneira como as pessoas viviam. Para projetar, é necessário entender a dinâmica das pessoas e suas famílias. Esse processo de observação me fez perceber que o resultado do projeto variava muito mais do que eu imaginava entre uma família e outra.

Também, ao longo dos anos, vivenciei uma mudança muito grande na maneira que as famílias funcionavam e como isso mudava a maneira de pensar as casas. Neste tempo, também, os materiais e técnicas construtivas disponíveis para executar as obras evoluíram, alguns deixaram de existir e novos surgiram, sempre melhorando o resultado.

Vivi tudo isso principalmente nos últimos 35 anos em que estive à frente do meu escritório. E é a partir desta base de conhecimento e vivências que vou expor minha visão sobre A CASA.

Claro que esta tipologia arquitetônica não foi exclusividade em minha história. Foram dezenas de EDIFÍCIOS (comerciais e residenciais), ESPAÇOS COMERCIAIS (lojas, restaurantes, bares, cafeterias, shoppings...), OBRAS INSTITUCIONAIS (igrejas, prédios públicos, cemitérios, prédios universitários, bibliotecas...), OBRAS URBANAS (praças, loteamentos, condomínios...), HOTEIS, (motéis, coworkig, coliving,) e outros como hospitais, clínicas odontológicas, clínicas médicas, Indústrias, etc...

Hoje, no escritório, trabalhamos com quatro tipologias, RESIDENCIAL, COMERCIAL e HOTELEIRO. Cada tipo de projeto alimenta e provoca a criatividade. Gosto de poder trabalhar com estes programas distintos. Arquiteto é naturalmente um ser criativo e se alimenta de desafios. As vezes é o desenho de uma simples cadeira que nos arrebata e nos faz passar horas ou até mesmo dias trabalhando num mesmo projeto.

Mas o tema é: A CASA.

E a escolha deste tema é porque projetar casas é umas das minhas paixões na arquitetura. Eu tenho uma relação diferente com o projeto de casas. Se eu comparo o ato de projetar uma casa com o projeto de um estabelecimento comercial eu diria que o projeto comercial é mais físico, material, sedutor, enquanto a casa é mais espiritual. Por mais que saibamos que exista uma grande diferença entre casa e lar ainda assim a casa é o invólucro da pessoa e sua família, a casa é o involucro do lar, assim como o corpo é o invólucro de mente e da alma. Quando eu comparo o ato de projetar a sexo, eu digo que arquitetura comercial está mais para transar e arquitetura residencial a fazer amor. Sim projetar é sexy.

Mas porque começar a escrever o livro a casa em 2020, além do tempo que foi proporcionado? O gatilho foi a percepção de grande mudança no cenário da produção arquitetônica Residencial em um período muito curto de tempo. Totalmente inédito na minha experiencia.

Em 2020, a pandemia pegou a todos de surpresa trazendo novas necessidades em diversos aspectos da vida das pessoas. Na casa, o impacto foi grande. É lá onde as pessoas passam a maior parte da sua vida. Já passavam, mas subitamente, esse tempo aumentou. Surgiu de forma premente a necessidade de um novo espaço dentro da casa: o espaço de privacidade. As casas, em sua maioria, não estavam preparadas para oferecer isso aos seus moradores. As empresas se adaptaram ao evento colaborando no processo de deixar seus funcionários produzindo de seus lares. Muitas empresas já se desfizeram de grande parte de suas estruturas administrativas e de produção, sinalizando que a cultura de trabalhar em casa (home office) veio para ficar. Sem a pandemia, não teria havido uma mudança tão rápida na maneira de trabalhar. Quem não possui a real necessidade de estar na empresa não irá mais para lá. Um sonho antigo dos gestores de empresa realizado. E o funcionário agora está trabalhando de casa feliz! Ou não! Quem não tem espaço com privacidade em sua casa para poder desempenhar suas tarefas profissionais está passando por uma série de percalços. O fato é que esta é só mais uma das novas necessidades da casa, um lugar de privacidade, ou dois, já que a moradia pode ser, por exemplo, de um casal. E este casal pode estar trabalhando em casa e em atividades que podem ser muito distintas, ou até mesmo conflitantes.

O que foi citado acima é só uma das partes que envolvem o pensar uma casa. São muitos aspectos que envolvem a criação de um projeto de uma casa e eu tratarei na sequência de muitos deles, não todos, mas de todos que eu acredito serem mais importantes e dos que mais me chamaram a atenção nestes anos de profissão.

Acredito que dependendo da maneira de como as pessoas vão pensar suas casas no futuro teremos um resultado que vai interferir na qualidade de vida delas e de suas famílias. Vai interferir na produção profissional e, numa sequência lógica, vai interferir na sociedade como um todo. Nós, os arquitetos, pensamos e trabalhamos nisso.

Entendo que o lugar em que a pessoa vive pode mudar em muito o seu estado físico, mental e espiritual. EU ACREDITO NA ARQUITETURA DA FELICIDADE.

E é disso que tratarei nos próximos capítulos.